Desafios para consumidores eletrointensivos

Apesar do excesso de oferta de energia que tem sido visto no setor elétrico, limites na infraestrutura de transmissão começam a ameaçar a demanda de energia, notadamente os projetos de consumo eletrointensivo, casos das plantas de hidrogênio verde e data centers, cuja carga elétrica é elevada, contínua e, muitas vezes, inflexível.

O Estado do Ceará está no centro dessa questão: apenas para o hub do Porto do Pecém, foram anunciados mais de R$ 102 bilhões em investimentos relativos a projeto de hidrogênio verde e data centers, que demandam mais de 5 GW de potência.

O ONS - Operador Nacional do Sistema Elétrico negou parecer de acesso para quatro desses projetos, alegando a necessidade de estudos adicionais e destacando a limitação da rede atual. Em dois casos, o agente recorreu à ANEEL - Agência Nacional de Energia Elétrica, que manteve a negativa do ONS, conforme decisão publicada no fim de abril. A situação mobilizou o governo federal, que busca formas de antecipar obras de reforço originalmente previstas apenas para 2032.

Mais do que um desafio técnico, os entraves à conexão desses empreendimentos revelam uma tensão crescente entre os cronogramas da iniciativa privada e o ritmo do planejamento público. Para que a rede de transmissão esteja apta à integração de cargas eletrointensivas, o ONS tem indicado a necessidade de estudos adicionais e adoção de critérios mais rígidos. Essa situação vem sendo acompanhada pela ANEEL, que iniciou processo de revisão das regras de acesso à rede (cf. CP 23/2024), diante da fila crescente de projetos eletrointensivos.

Por outro lado, as decisões finais de investimentos para tais projetos estão previstas para este ano ou 2026, sendo que o início de operação de tais instalações ocorreria a partir de 2029.

O caso do Ceará expõe com clareza um impasse cada vez mais presente na transição energética brasileira: enquanto a iniciativa privada avança com projetos bilionários, sustentados por cronogramas ambiciosos e forte interesse internacional, o setor público atua nos limites e na cadência necessária para amadurecer a infraestrutura do país. O sucesso da transição dependerá, em grande parte, da capacidade de alinhamento de ritmos e expectativas entre o poder público e os agentes do mercado.

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